segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Samba atravessado

O homem acorda e imediatamente se arrepende, como se o sono o tivesse protegendo de seus próprios erros.

Mais tarde ele vai cogitar que talvez durma para que a convivência consigo mesmo seja possível, mas nesse momento ele se vira e vê o relógio marcar alguma hora depois das 6.

Ele volta a fechar os olhos, embora não possa mais dormir. Não que tenha compromisso; não tem, é feriado.

É que não há desilusão pior que a que causamos a nós mesmos.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Taxiando

O cheiro de terra molhada permaneceu durante toda a noite. Uma noite permeada de sonhos estranhos e culpa.

A chuva pede cautela e a pouca visibilidade aconselha que se aguardem melhores condições para pousos e decolagens.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Deserto

É preciso que se diga: escrevo essas linhas por necessidade. Alguns chutam latas, outros berram ou socam a porta e esmurraram a mesa. Eu escrevo.

Não que eu tenha o dom de fazê-lo, assim como não é preciso arte para proferir impropérios ou fazer um almoço de família ir pelos ares (para isso talvez seja necessária uma certa proficiência).

Portanto, avisado está: não escarafunche essas palavras à procura de literatura; é como esgravatar terra árida. Mas esse é o meu quintal.